O que devemos discutir é que se não bastasse tal agressão física sofrida pela vítima, durante o julgamento o advogado do réu dirigiu-se à vítima de forma agressiva e a intimidando
Esta semana o País parou, atônito e sem ação, diante de um possível veredito de “estupro culposo”, que absolveu de estupro de vulnerável um empresário catarinense acusado de violentar uma moça de 21 anos, em 2018.
O réu alegou que não teve como saber se a jovem Mariana Ferrer estava impossibilitada de consentir o sexo e, justificando que não teve a intenção de praticar o crime. Mariana relatou ter sido dopada e ter ficado sem lembranças do ocorrido.
O que devemos discutir é que se não bastasse tal agressão física sofrida pela vítima, durante o julgamento o advogado do réu dirigiu-se a vítima de forma agressiva e a intimidando, colocando-a por vezes numa condição de leviana nas acusações, gerando dúvida sobre sua idoneidade e caráter. Transformando de vítima a culpada, diante do olhar insensível de um juiz que apenas se manifestou – e de forma indiferente – quando Mariana, aos prantos, clamou por sua interferência.
Manifestações de apoio eclodiram por todos os cantos do Brasil questionando o réu sobre sua atitude, o advogado por sua insensibilidade ofensiva, o promotor por sua ausência profissional e o juiz, por sua passividade diante de tais agressões a uma vítima, bem embaixo de seus olhos.
Não bastasse vivermos num mundo machista que limita direitos e oportunidades às mulheres, passamos agora a criar situações que potencializam a vergonha de uma agressão, com situações que humilham e denigrem a posição da vítima.
Tal subterfúgio e tipo de defesa afrontam a sociedade colocando-nos à beira de um autoritarismo que ignora direitos, maltrata vítimas e esfrega a ironia na cara dos que não abrem mão daquilo que é justo, honesto e ético.
Ou damos um basta, ou seremos engolidos por uma justiça que não enxerga seus limites.
Fonte: A Tribuna