Justiça concede indenização vitima de fofoca em igreja
O pastor de uma igreja evangélica em Realengo, na Zona Oeste do Rio, de uma vez só, desrespeitou dois mandamentos da Lei de Deus: “Não levantar falso testemunho” e “Não tomar seu santo nome em vão”. O religioso teria comentado com outros frequentadores do templo ter recebido a “revelação divina” de que uma de suas ovelhas estaria traindo o marido. Uma das fiéis repassou a história adiante. Ambos foram punidos pela lei dos homens e serão obrigados a indenizar em R$ 5 mil, cada, a vítima da fofoca que, se sentindo ofendida em sua honra, recorreu à Justiça.
A decisão da 18ª Câmara Cível do Rio foi noticiada pelo jornalista Ancelmo Gois, do jornal “O Globo”. Moradores do bairro saíram em defesa da ofendida e contaram episódios em que também foram envolvidos no disse me disse. Alguns admitem até que já ajudaram a espalhar boatos. O auxiliar de serviços gerais Amos Constantino, de 40 anos, é um deles, mas preferiu não dar detalhes. Na sua opinião, as pessoas buscam a fofoca como meio de garantir “seus 15 minutos de fama”.
— Também já fui vítima. Uma vez, saí com uma colega e era só coisa de serviço. Outro colega interpretou de maneira diferente e gerou uma fofoca que dura até hoje, mais de cinco anos depois — diz ele, garantindo que o envolvimento era só profissional.
A estudante Carla Caroline Oliveira, de 24 anos, critica a fofoca dentro e fora de um templo religioso. Ela mesma já foi alvo das línguas ferinas. No caso, o chamado “fogo amigo”.
— Estava me relacionando com uma pessoa há dois anos e tinha amizade com outra, pelo mesmo período. Ela me difamou com meu namorado e isso contribuiu para a nossa separação. Só depois entendi que ela queria interferir para ficar com ele, o que realmente aconteceu. Minha vingança é que não durou mais que uma semana — conta Carla.
Para a cuidadora de idosos Rose Ferreira, de 44 anos, ninguém está livre da fofocas, mas acha que o comportamento é mais comum entre as mulheres do que no universo masculino. Ela não esconde que já fez, mas prefere não contar.
— Muitas vezes, o problema não é o que é dito, mas a maneira como é interpretado. É aí que nasce a fofoca — argumenta Rose.
A encarregada de limpeza Gabriele Ferreira, de 38 anos, e a estudante Luciana de Souza, de 45, acham que a melhor maneira de não alimentar o falatório é não dando corda para os fofoqueiros. Para as amigas, a receita para ficar imune às chamadas más línguas é ignorá-las.
— Não dou confiança, porque fofoca é assim: quanto mais mexe mais cresce — afirma Gabriele.
No caso envolvendo o pastor de Realengo e a fiel que espalhou a fofoca, a Justiça entendeu que ambos “ofenderam a honra da autora (da ação)”. Os dois recorreram, mas a 18ª Câmara Cível negou provimento ao recurso. Nenhum dos acusados foi localizado pelo EXTRA para comentar o assunto. A vítima não quis falar sobre o caso.
Processo: 0001228-53.2015.8.19.0204
Fonte: SOS Consumidor